sábado, 2 de dezembro de 2017

E chegou dezembro

E ai, dezembro chegou...

Aquele dezembro que você achou que estaria barriguda, recebendo de Papai Noel presentes apenas para o filhote, esquecida, e estaria super feliz com isso. Só que não. Os planos foram mudados. Não há vida ( ao menos humana) crescendo em você. Não há presentes. Não há nem sequer memória das pessoas em relação ao que você passou, sofreu, sentiu e ainda sente.

Após o aborto tive dois ciclos menstruais. A cada ciclo uma nova dor. Dilacera. Olhar para o sangue saindo de mim me leva de volta ao passado...me traz a lembrança de quem meu amado filho não está aqui comigo. Mas quem se importa?

Seguir pensando em algo que me traga algum tipo de alegria ainda é difícil. Tento sorrir, mas esse sorriso ainda é com a boca apenas. Sorrir com qualquer parte diferente desta ainda é para poucos segundos. Ainda busco respostas para quem sou, o que devo fazer e qual a minha importância. As vezes a minha vontade é ser apenas estrelinha e de que tudo seria mais fácil dessa forma.

No trabalho também não vivo uma boa fase. Não sinto que as coisas vão bem e acho que tudo está meio desgringolado. Vontade de mudar o mundo ( meu mundo) mas ainda paralizada - ou não.

Processo de adoção inicial finalizou. Demos entrada. Agora é preciso ir até la para termos o numero do processo que não aparece no site. E cadê que é viável?

Ainda me sinto sozinha em um universo desconhecido, e me sinto desconectada de todos. Talvez eu de fato não mereça a benção que todos proclamam aos ventos. Talvez ninguem mereça estar perto de mim por eu ser como sou.

Talvez...

Sei que se o natal do ano passado foi bom...esse...

2016: o ano da perda de meus bebês...3 se foram.

PS: Se vc estiver lendo isso e tiver alguma amiga que tenha perdido um bebê e for recorrente, quando ela te contar NÃO fale: de novo? ou qualquer variação disso. Sofrer um aborto não é como pegar uma gripe ou talvez até ter que operar um joelho ( chato, ruim e frustrante). É uma vida...é a vida do seu filho...vc está falando que sua amiga perdeu MAIS um filho. Então falar: DE NOVO é simplesmente frio, sem compaixão, sem empatia e nos dá vontade de desligar o telefone na hora.
Cuidado com o que falar. Nosso coração dói. Já não temos o direito de sofrer....se nem com nossos amigos sentirmos empatia, só nos restará o que?